Curso tem formação generalista, mas indústria pede especialização.
Mercado
de trabalho está em expansão, segundo entidade da área.
Um dos cursos mais recentes de engenharia no Brasil, a engenharia de
alimentos ainda está "engatinhando" no país, segundo Gumercindo Ferreira
da Silva, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros de
Alimentos (Abea). Os próximos dez anos, diz ele, devem ser de aumento da
demanda por profissionais capacitados em todos os passos da cadeia de
produção de alimentos, desde a elaboração de fórmulas até o
armazenamento, passando pela fabricação e o transporte dos produtos. "Se
pensarmos em qualquer produto alimentício no supermercado, ali tem
engenharia de alimentos do início ao final", afirmou Silva.
Por isso, segundo ele, a formação superior na carreira é generalista.
Criado a partir do fim da década de 1960, o curso de engenharia de
alimentos já é oferecido por 60 instituições e, de acordo com a Abea,
continua abrindo mais vagas. Na graduação, o estudante precisa lidar
principalmente com as matérias de física e matemática na engenharia, mas
também com elementos da química.
Os engenheiros de alimentos aprendem, na faculdade, conhecimentos como a
escolha da matéria-prima o desenvolvimento da formulação ideal do
processamento, conceitos térmicos e de troca de calor, o uso dos
equipamentos necessários e o transporte e armazenamento de todos os
tipos de produtos alimentícios.
"A conservação do alimento é uma atividade extremamente importante,
porque ela faz com que ele dure o prazo de validade que a indústria
determina", afirmou.
Além dos cuidados com as substâncias adicionadas aos alimentos, como os
corantes, a pesquisa e desenvolvimento são responsáveis pela constante
melhoria dos processos industriais, e representam uma das diversas
opções de trabalho que um engenheiro de alimentos encontra no setor.
Mercado de trabalho
De acordo com Silva, a maioria dos engenheiros de alimentos foca sua
atuação na indústria, mas é cada vez maior a procura por profissionais
desse setor nas áreas comerciais, como redes de fastfood, e em empresas
de consultoria e faculdades. Ele também cita a opção do
empreendedorismo.
"Você começa seu próprio negócio, fazendo um produto bem artesanal e
caseiro, e depois pode evoluir para a parte industrial, construir uma
empresa grande. A gente tem os exemplos das microcervejarias, que são
uma produção artesanal e podem chegar à comercialização em nível
nacional", afirmou Silva
Marcelo Cozac, de 39 anos, é um exemplo de engenheiro de alimentos que
acabou virando empresário. Ele se formou em engenharia de alimentos pela
Instituto Mauá de Engenharia, na Grande São Paulo, em 1996. Ele afirmou
que optou pela carreira porque ela era uma das mais recentes, e disse
que, naquela época, a demanda do mercado era muito menor do que hoje.
O engenheiro conseguiu estágio em uma cervejaria e atuou no setor
durante cerca de dez anos, até que teve a oportunidade de criar seu
próprio negócio, uma empresa que importa, vende e cuida da manutenção de
máquinas dos Estados Unidos, Espanha e Alemanha, usadas em indústrias
de engarrafamento e empacotamento, entre elas as de bebidas e alimentos.
"A gente procura as novidades na tecnologia, que podem trazer ganhos de
produtividade, economia nos processos, de embalagem, buscando sempre
garantia de qualidade."
Sustentabilidade
Durante uma feira de tecnologia do setor, Cozac expôs um dos
equipamentos que começou a vender há dez anos e já está presente em
cerca de 200 indústrias. "A máquina injeta nitrogênio líquido na bebida,
que tem dois efeitos: primeiro, ele reduz o nível de oxigênio para que o
produto dure mais, depois, ele pressuriza a embalagem", explicou o
engenheiro.
Salário e carreira
O presidente da Abea explica que o profissional recém-formado em
engenharia de alimentos chega ao mercado recebendo o piso salarial de
cinco salários mínimos, e que diretores e presidentes de grandes
empresas podem chegar a receber salários de mais de R$ 45 mil.
Apesar da formação generalista, a carreira do engenheiro exige que ele
se especialize em uma área específica e, com o tempo, vá aprofundando e
atualizando seus conhecimentos nela. "Quando entra em um segmento, ele
se especializa no assunto e vira expert naquilo", diz.
Para Silva, "os estudantes têm um desafio muito grande no mercado, essa
é uma área considerada pouco explorada no Brasil, um mercado muito
grande que dia a dia está abrindo novas frente de trabalho".
A demanda por profissionais caminha lado a lado com o aumento das
exigências dos processos de qualidade. Como lidam com produtos
perecíveis, os engenheiros de alimentos devem seguir orientações
rigososas do governo brasileiro.
Os alimentos e produtos usados, de acordo com Silva, são controlados
por três ministérios diferentes: o Ministério da Saúde cuida da
autorização da alimentos de origem natural, como frutas, sementes e
verduras e o Ministério da Agricultura é responsável pelos produtos de
origem animal, como as carnes e o leite. Já o Ministério de Minas e
Energia trata dos líquidos comercializados pela indústria, entre eles o
refrigerante e a água.
Um curso bastante promissor, veremos o que nos espera nessa caminhada.
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